De joelhos frente á árvore de natal, aproximo as minhas mãos. Entrelaço os dedos e fecho os olhos. Face á pequena vela branca, rezo. Rezo, e peço. Peço o que mais quero neste natal.
"Por favor", digo para mim mesma, com o meu tom angelical infantil
"Por favor, apenas quero uma coisa este natal. Não quero roupa, não desejo dinheiro, ignoro os brinquedos. Apenas quero a minha mãe."A minha mãe. Ao pronunciar estas palavras, soltei uma lágrima. Levantei-me e olhei para a foto em cima da mesa de café da sala. Eu. Tu. Abraçadas. Tinha apenas 6 anos quando foste, e agora sou grande. Passaram 3 anos, e ainda sinto a tua falta.
"É normal", dizem. Mas não sinto como se fosse. Contudo, sento-me ao pé da foto, de
"perninhas á chinês" como infinitamente dizias. Sorri, escondendo as lágrimas e comecei a relatar o meu dia. Como sempre.
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É véspera de natal - pausei -
mãe. Hoje brinquei com a minha melhor amiga. Ela desejou-me um bom natal, e um próspero ano novo. Ela vai para fora. Diz que vai voltar, mas - suspirei, brincando agora com um ramo de antúrios vermelho que o pai comprará esta manhã -
sei que são promessas falsas. Mãe - pedi, como se estivesses á minha frente -
o pai diz que foste para o céu. Sempre disse. Estás mesmo lá? Se estás, podes vir cá? Fiz-te uma pulseira, e queria te dar - ri, perante a infantilidade que dizia -
mas sei que não podes. Nesse momento senti algo no meu ombro. Umas palavras doces cativaram-me. Um cheiro a baunilha reanimou o meu sorriso, já morto. Levantei-me e com esperanças, virei-me.
- Mãe!Deparei-me com uma figura maternal, de vestido branco e cabelos pretos esvoaçando no ar. Sem pensar duas vezes, abracei essa figura. Era real. Eu sentia, eu ouvia, eu cheirava. Era ela.
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Filha - disse, rindo -
como estás? - abaixou-se um pouco, chegando até á minha altura, sempre sorrindo -
Tenho olhado por ti, este tempo todo. Estás tão crescida! -
Mãe, mãe fica - a minha voz soou como uma súplica. E era.
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Não posso, mas - afastou os meus cabelos da minha cara, prendendo-os por detrás da minha orelha esquerda -
mas fica sabendo que, estarei sempre. Sempre, mesmo para sempre, aqui - apontou para o meu coração -
só precisas fechar os olhos e ouvirás a minha voz.
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Adoro-te, mãe - as lágrimas escorriam pela minha cara, enquanto a abraçava. O seu perfume habitual inundou-me e eu não queria que aquele momento acabasse.
Mas foi aí que abri os olhos e deparei-me no meu quarto. Sentei-me na cama, apressadamente, e olhei em volta. Mãe? Não estava. Havia sido um sonho. Contudo, os meus olhos pairaram sobre a minha mesa-de-cabeceira. A pulseira que havia feito, para a minha mãe, no dia anterior desaparecera. Sorri e disse, como num murmúrio.
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Isto pode ser apenas o espírito natalício tomando conta de mim, mas sei - olhei para o tecto, entrelaçando os meus dedos, novamente -
que estás ao meu pé, mãe.E aí senti os braços me rodearem, e me abraçarem. E um sentimento de segurança e conforto, dominou-me.
(: